sexta-feira, 12 de maio de 2017

Mulheres marroquinas lutam contra o assédio sexual diariamente

No Marrocos, não é fácil para uma mulher andar pelas ruas sem ser assediada. Morgan Meaker conversa com mulheres que querem pôr um fim a esse assédio endêmico.



De acordo com Ghizlane Ahblain, a palavra “puta” é constante no dia a dia de sua cidade natal, Marrakesh. O termo ofensivo pode ser escutado nas mais diversas partes da cidade.

“No Marrocos, não importa o que você faça, você é chamada de puta”, diz Ghizlane, que trabalha em um hotel. “Se você usa batom, você é puta. Se você usa véu, você é puta. ”

Ao sentar-se em uma cafeteria no centro de Marrakech, a frustração transborda da pequena, mas impetuosa marroquina de 30 anos. Como muitas mulheres no Marrocos, Ghizlane lida com o assédio sexual diariamente. Mas há alguns anos começou a revidar. 

Sua tática é fazer um escândalo, para que fique mais difícil para os homens assediar as mulheres nas ruas, tanto fisicamente como verbalmente. Ela inicia uma discussão com um homem que resmunga: “Você tem pernas lindas”, ou acusa um outro homem de roubo aos gritos, depois de ele ter feito comentários sexistas no banco. “Os homens no meu país não sabem quando parar.”   

Com seu mestrado e saia curta, Ghizlane admite que não é a típica mulher marroquina. Mas ela não está lutando contra o assédio sexual sozinha.

Em Rabat, a capital do país, espero por Mo do lado de fora da estação de trem. Ela desliza pelo chão de azulejos reluzentes, com seus longos cabelos marrons que cobrem suas costas. Nossa conversa é estranha. Ela diz que geralmente não conversa sobre os direitos das mulheres – suas amigas não estão muito interessadas.

“Meu sonho é que as mulheres marroquinas aprendam como parar o assédio sexual”, ela diz. “Quando alguém me assedia, imagino mulheres arrebentando a cara dele. ” 

Ela tentou começar uma aula de autodefesa mas teve que pedir permissão ao governo. Seu pedido foi ignorado. Com isso, ela sozinha tem confrontado assediadores sexuais nas ruas, um a um. “Quando alguém tenta me tocar, eu grito. Eu digo: ‘Por que você está fazendo isso’? Esses homens não entendem. Nunca recebo uma resposta positiva. ”

Mas com um anteprojeto de lei sobre o assédio sexual atualmente sendo avaliado no Parlamento marroquino, os assediadores sexuais persistentes podem, em breve, ser condenados à prisão de um a seis meses ou multados entre aproximadamente 170 a 800 libras esterlinas.

Parece algo positivo. Não será uma cilada?

“Nos parece um anteprojeto de lei terrível”, diz Stephanie Willman Bordat, uma americana expatriada que trabalha com direitos das mulheres no Marrocos há 21 anos. Seu escritório em Rabat é um paraíso seguro dos fiu-fius e das propostas de casamento que a fotógrafa Frances e eu temos atraído nas ruas. 

“Seria apenas fazer pequenos ajustes no já existente código criminal. O problema é que as mulheres não denunciam, a polícia não investiga e os promotores de justiça não atuam. ” 

Mais tarde ela me envia por e-mail uma história de 2015 que explica por que as mulheres não confiam no sistema. É de Inezgane, cidade situada no sudoeste de país. Após ser assediada por um grupo de homens, duas mulheres buscaram refúgio em uma loja próxima onde esperaram pela polícia. Quando os policiais chegaram, ao invés de as protegerem, as prenderam – porque seus vestidos eram, segundo eles, “muito curtos”. 

Para a mulher, o assédio nas ruas não a deixa apenas com a emudecida e sufocante sensação de se sentir violada. No Marrocos, isso também limita sua liberdade para estudar, ir ao trabalho e se sentir segura no lugar que ela chama lar. 

E enquanto uma mudança de comportamento pode demorar décadas para acontecer, a curto prazo, a reforma na lei do assédio sexual envia uma mensagem clara sobre o que é aceitável e o que não é. Sobre quem pode ou não ser perturbado pela impunidade.  

Nem todas as mulheres marroquinas têm energia para revidar e lutar contra o assédio. Muitas simplesmente moldam suas vidas em torno disso, evitando atritos.

Passeando pelo forte, na cidade velha de Rabat, a empresária Gitana me conta que evita os comentários dos homens e suas tentativas de tocá-la, indo para todos os lugares de carro. 

Juntas, olhamos o mar abaixo. O Oceano Atlântico enevoa-se no monocromático céu marroquino. Noto que há somente meninos nadando na água. Pergunto para minha nova amiga, “Você acha que daria para nadar...vestindo um biquíni? ” Ela diz: “Você poderia...” e pausa olhando constrangida para o mar azul abaixo. “Mas eu nunca faria isso...”   

Penso novamente em Ghizlane e suas batalhas diárias em Marrakech. Antes que sumisse no meio da multidão, ela me olha seriamente, através de seus grandes óculos e diz: “Definitivamente não é fácil viver no Marrocos e ser mulher”.

Texto original em inglês.
Traduzido por: Tradução & Informação