terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Brasil tem sede apesar de ser dono de 20% da água no mundo



Se o Brasil tem quase a quinta parte das reservas de água no mundo, por que as notícias sobre a escassez de água se tornaram tão comuns no país nos últimos anos? Há muitas respostas para esta pergunta, desde a forma como os recursos hídricos estão divididos geograficamente e a degradação das áreas ao redor da bacia do rio, até a mudança climática e a má infraestrutura de fornecimento.

Os setores que mais contribuem para a economia são os mais dependentes da água. Por exemplo, 62% da energia do Brasil é gerada por usinas hidroelétricas. A água é também essencial na agricultura, outro setor importante para a economia. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), a irrigação consome 72% da água do país. 
Este tipo de dependência significa que em tempos de crise da água – segundo a experiência de São Paulo em 2014 e 2015 – a produtividade dos diferentes setores econômicos pode ficar ameaçada. 
Estes e outros temas são discutidos em um novo relatório do Banco Mundial chamado Diagnóstico Sistemático de País (SCD em inglês), que mostra como os recursos naturais podem contribuir para o desenvolvimento econômico do país. 
“Em São Paulo, durante alguns meses não ficou claro se as indústrias, tais como a de alumínio, grande consumidora de água, poderiam seguir produzindo no ritmo anterior à crise hídrica”, recorda Gregor Wolf, chefe do programa de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial no Brasil.
O estudo inclui alguns aspectos importantes sobre como o Brasil está gerindo seus recursos hídricos e analisa os principais obstáculos que devem ser enfrentados com a finalidade de estabelecer um modelo sustentável e integrador.
Água, bosques e cidades
Frente a forte evidência científica da relação entre o desmatamento, a degradação dos bosques e as mudanças nos padrões da chuva, o relatório adverte: a crise da água como a de São Paulo pode se repetir nas próximas quatro décadas, afetando o abastecimento, a produção agrícola e a geração de energia, entre outras atividades. O estudo também destaca a redução do desmatamento da Amazônia nos últimos anos (em 82%) e os regulamentos criados, como o Código Florestal, para ajudar a proteger os recursos naturais nos terrenos rurais. São conquistas recentes depois de décadas de devastação acopladas à necessidade cada vez maior de ter um controle constante para que não se percam tais recursos.
Os mais dependentes da água 
O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. No país onde a agricultura e a agroindústria representam 8,4% do PIB, as zonas de terrenos irrigados aumentaram em ritmo acelerado na última década e tudo indica que o consumo de água seguirá crescendo. Atualmente, menos de 20% das terras de regadio têm acesso à irrigação. Na área de geração de energia, incluindo a diversificação das fontes previstas para as próximas décadas, as usinas hidroelétricas continuarão gerando a maior parte da eletricidade que se consome no Brasil.
O setor mais poluente
A indústria continua sendo uma das principais causas da degradação do meio ambiente no Brasil. De acordo com o relatório do Banco Mundial, os investigadores encontraram resíduos industriais, incluindo metais pesados, nos cursos de água em várias áreas metropolitanas. Tais poluentes são descartados sem nenhum tratamento prévio. Em São Paulo e Recife, por exemplo, isto significa que os rios circundantes já não são seguros para o fornecimento de água potável, obrigando as cidades a extrair água de poços ou bacias mais distantes. O crescimento de novos complexos industriais, particularmente no Nordeste, também pode resultar em impactos ambientais a longo prazo, tais como a contaminação e a competição pelos recursos naturais (especialmente a água).
Desigualdades no acesso a água e ao saneamento
Entre os 40% mais pobres do país, a porcentagem dos lares com vaso sanitário conectado à rede de saneamento aumentou de 33% em 2004 para 43% em 2013. Porém, o acesso é ainda baixo se comparado com o estrato mais rico da população. Outra diferença importante é a que existe na cobertura nacional da água (82,5%), das águas residuais (48,6%) e o tratamento real de águas residuais (39%). A falta de tratamento das águas residuais faz com que os poluentes sejam jogados diretamente na água ou processada em fossas sépticas não regulamentadas, com graves consequências para a qualidade dos recursos hídricos, assim como ao bem-estar da população.
O que precisa ser melhorado?     
Muitas empresas de fornecimento ainda sofrem grandes perdas de água (mais da terceira parte em média), têm excesso de pessoal e altos custos de operação. O financiamento do setor se baseia em taxas e subsídios cruzados, com uma estrutura tarifária obsoleta, incapaz de gerar serviços mais eficientes e sustentáveis. O resultado: não têm capital suficiente para aumentar a cobertura e fazer com que a infraestrutura seja mais resistente aos fenômenos climáticos extremos (secas e inundações).
O estudo agrega que a qualidade de vida dos brasileiros mais pobres está fortemente relacionada à gestão da água e de outros recursos naturais, e, portanto, as políticas para conservá-los são cada vez mais necessárias.   

Texto original em espanhol: El País

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