O mais impressionante sobre Joseph Mothibedi é sua voz: rouca, um sussurro metálico. É o som de um homem que morre lentamente.
O ex-mineiro de 58 anos parece reduzido em seu uniforme de trabalho, que fica suspenso em seus ombros ossudos, enquanto passa margarina em uma fatia de pão branco para o chá da tarde.
"Apenas escute minha voz," ele diz, "Eu tenho problemas nos pulmões. Eu nem sequer posso andar rápido ou longe. É muito difícil para mim."
Mothibedi está acometido de silicose, uma doença incurável nos pulmões que afeta os mineiros no sul da África.
A silicose progride por longos períodos de tempo. O pó fino de sílica se instala no fundo dos pulmões dos mineradores enquanto eles extraem ouro, dia após dia, ano após ano. À medida que as partículas de sílica se acumulam, o funcionamento dos pulmões fica severamente limitado. Os trabalhadores têm falta de ar, perda de peso, se tornam propensos à doença cardíaca e, nos casos mais severos, a uma morte precoce.
Diversos estudos estimam que existem ao menos duzentos mil mineiros e ex-mineiros na região que sofrem dessa doença.
Na sexta-feira, milhares deles receberam permissão para proceder com a marcante ação judicial coletiva - a maior na história da África do Sul - contra empresas de mineração.
O processo, em parte apoiado pela Motley Rice, proeminente firma de advocacia dos EUA, alega que as mineradoras deveriam ter sabido dos efeitos prejudiciais do pó de sílica e não fizeram o suficiente para impedir isso.
A base da riqueza sul-africana foi construída à custa dos mineiros negros. A segregação da indústria de mineração foi um elemento crucial nas políticas racistas, culminando em décadas de regime apartheid.
Enquanto crescia em Lestotho, Mothibedi via as minas como a única oportunidade para melhorar de vida.
"Quando comecei a trabalhar nas minas, queria apenas ganhar dinheiro e voltar a estudar," ele diz. "Mas quando comecei a ver as pessoas ganharem dinheiro, pensei que poderia poupar e começar meu próprio negócio."
Lentamente, subiu até um dos poucos cargos mais altos nas minas que mineradores negros podiam esperar obter no apartheid, durante todo o tempo em que respirava o pó que arruinaria seus pulmões.
A silicose pôs um fim nos sonhos de Mothibedi.
"Sinto-me desamparado. Essa doença tem destruído tudo em minha vida", ele diz.
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