quinta-feira, 14 de julho de 2016

Morrendo pelo ouro




A maior ação judicial coletiva da África do Sul obtém autorização para avançar


O mais impressionante sobre Joseph Mothibedi é sua voz: rouca, um sussurro metálico. É o som de um homem que morre lentamente.

O ex-mineiro de 58 anos parece reduzido em seu uniforme de trabalho, que fica suspenso em seus ombros ossudos, enquanto passa margarina em uma fatia de pão branco para o chá da tarde. 

"Apenas escute minha voz," ele diz, "Eu tenho problemas nos pulmões. Eu nem sequer posso andar rápido ou longe. É muito difícil para mim." 

Mothibedi está acometido de silicose, uma doença incurável nos pulmões que afeta os mineiros no sul da África. 

A silicose progride por longos períodos de tempo. O pó fino de sílica se instala no fundo dos pulmões dos mineradores enquanto eles extraem ouro, dia após dia, ano após ano. À medida que as partículas de sílica se acumulam, o funcionamento dos pulmões fica severamente limitado. Os trabalhadores têm falta de ar, perda de peso, se tornam propensos à doença cardíaca e, nos casos mais severos, a uma morte precoce.

Diversos estudos estimam que existem ao menos duzentos mil mineiros e ex-mineiros na região que sofrem dessa doença.

Na sexta-feira, milhares deles receberam permissão para proceder com a marcante ação judicial coletiva - a maior na história da África do Sul - contra empresas de mineração.
O processo, em parte apoiado pela Motley Rice, proeminente firma de advocacia  dos EUA, alega que as mineradoras deveriam ter sabido dos efeitos prejudiciais do pó de sílica e não fizeram o suficiente para impedir isso.

A base da riqueza sul-africana foi construída à custa dos mineiros negros. A segregação da indústria de mineração foi um elemento crucial nas políticas racistas, culminando em décadas de regime apartheid.    

Enquanto crescia em Lestotho, Mothibedi via as minas como a única oportunidade para melhorar de vida.

"Quando comecei a trabalhar nas minas, queria apenas ganhar dinheiro e voltar a estudar," ele diz. "Mas quando comecei a ver as pessoas ganharem dinheiro, pensei que poderia poupar e começar meu próprio negócio."

Lentamente, subiu até um dos poucos cargos mais altos nas minas que mineradores negros podiam esperar obter no apartheid, durante todo o tempo em que respirava o pó que arruinaria seus pulmões.

A silicose pôs um fim nos sonhos de Mothibedi.

"Sinto-me desamparado. Essa doença tem destruído tudo em minha vida", ele diz. 


Texto original e completo em inglês: CNN
Traduzido por: Tradução & Informação

Nenhum comentário:

Postar um comentário