quinta-feira, 14 de julho de 2016

Surto de febre amarela pode se tornar global




Ela ocupa um lugar estranho no espectro das doenças tropicais infecciosas. Não tão importante quanto a malária. Não tão aterrorizante quanto o ebola. Não tão repugnante quanto a elefantíase. Contudo, a febre amarela é uma doença grave e incurável, uma vez contraída. 
Ela mata 80.000 africanos todo ano, o que é um escândalo, tanto porque ela pode ser prevenida com uma única vacinação, como também porque agora há risco de contágio da febre amarela na Ásia, onde ela nunca antes havia se estabelecido. 

Este é o contexto da mais recente epidemia da doença, em Angola. Desde dezembro, cerca de 2.300 casos suspeitos foram registrados, com aproximadamente 300 mortes. Se comparado com as 80.000 mortes, pode não parecer muito, mas a experiência sugere que para cada caso levado à atenção das autoridades, em um país em que a assistência médica é tão fragmentada como em Angola, entre 50 e 500 casos provavelmente não são registrados. 

A febre amarela é transmitida pelo Aedes aegypti, o mosquito que também carrega os vírus da dengue e da zika. Os primeiros sintomas — temperatura alta, náusea, vômito e dor muscular — são razoavelmente suaves e geralmente duram somente alguns dias. Em cerca de 15% dos casos, contudo, a doença retorna posteriormente muito mais forte. Os pacientes sentem forte dor abdominal, se tornam ictéricos, sangram internamente e pelos olhos, boca e nariz. Cerca de metade dessas pessoas morre.   

A ONU e a Organização Mundial da Saúde enviaram 9 milhões de doses de vacina para Angola, o suficiente para cerca de um terço da população. Essa quantidade é em torno de um quinto de toda a vacina disponível no mundo a qualquer momento. Se a epidemia se espalhar, os estoques acabarão rapidamente. 

A melhor maneira de conter a doença agora é vacinar o mais rápido possível todos aqueles em situação de risco. Todo dia aumenta a chance de que um dos milhares de trabalhadores asiáticos em Angola leve a doença para casa, causando um surto em larga escala em um continente que ainda não vivenciou isso. 

A distribuição da vacina em todos os países africanos em que a febre amarela é endêmica pode reduzir o número de casos. Mais de 100 milhões de pessoas foram vacinadas desde seu início em 2007. Com mais financiamento, este surto poderia ter sido evitado: Angola não estava entre os 12 países que eram considerados mais suscetíveis à doença.  
A produção da vacina da febre amarela tem aumentado nos últimos cinco anos, mas seria difícil aumentá-la ainda mais, pois ela provém de apenas quatro origens: Sanofi Pasteur, empresa farmacêutica francesa, e institutos no Brasil, Senegal e Rússia.   

Texto original em inglês: The Economist


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