segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Novo Levothyrox: Le Monde denuncia 14 mortes na França


Não há um alerta oficial, mas aumenta a preocupação pelos misteriosos efeitos colaterais do Levothyrox, medicamento da indústria alemã Merck para o tratamento do hipotireoidismo.

O jornal francês Le Monde noticiou quatorze mortes de pacientes de causas ainda desconhecidas, que foram registradas no banco de dados nacional como “reações adversas a medicamentos”. Um detalhe em comum conecta estas mortes: todos os pacientes tomavam o Levothyrox, medicação que progressivamente deveria ter substituído o Eutirox, tradicional remédio para o tratamento da doença da tireoide.     

O medicamento tem gerado polêmica desde março, depois do lançamento de uma nova fórmula e da mudança de algumas substâncias usadas na produção. Médicos e farmacêuticos foram informados sobre as modificações através de um e-mail, que foi enviado no final de fevereiro. Apenas uma notificação por e-mail, considerando que o fármaco é classificado como “não substituível” pela Agência Nacional de Segurança de Medicamentos e Produtos de Saúde (ANSM) e requer uma dosagem precisa para cada paciente que é difícil de identificar. Até mesmo pequenas modificações podem causar efeitos significativos.  

Logo após a chegada gradual da nova fórmula ao mercado, milhares de pacientes reclamaram dos efeitos colaterais, entre eles: cólicas, tonturas, perda da memória, cansaço, insônia e distúrbios digestivos. Reações que nunca foram associadas oficialmente ao uso do remédio. “Não foi encontrado nenhum efeito negativo novo associado especificamente à nova fórmula”, declarou a ANSM no dia 10 de outubro, depois da denúncia dos pacientes de um “escândalo sanitário”. Os efeitos, segundo a agência, indicam “um desequilíbrio da glândula da tireoide associado à mudança de tratamento” e já haviam sido relatados “na antiga fórmula do Levothyrox”.

É preciso considerar que no momento da análise da ANSM haviam morrido somente quatro pessoas, todas com graves doenças ou habituadas a tomar uma quantidade elevada de remédios por dia. Tais considerações poderiam ter acalmado os ânimos, se não houvesse triplicado o número de mortes em poucos meses, gerando um novo caos entre os pacientes.
Os relatórios de reações adversas apresentavam 14.633 casos em setembro e atualmente este número aumentou ainda mais. 
O Le Monde informa que a associação que protege os doentes lançou uma petição - que já recolheu mais de 200 mil assinaturas - para o retorno da fórmula original ao mercado.

Nada a dizer diante destes números?  

A ANSM continua sem se pronunciar, mas confirmou que continuará com a investigação e que os novos resultados serão apresentados no final de janeiro.

“Não há nenhuma crise sanitária”, declarou no final de outubro o deputado Jean-Pierre Door sobre o caso Levothyrox. “Apenas uma crise midiática em torno da nova fórmula do remédio. ”

O professor Claude Hamonet citou uma outra hipótese no “The Conversation”: quem tomou o medicamento e teve efeitos colaterais pode sofrer da Síndrome de Ehlers-Danlos, que é hereditária, desconhecida e apresenta sintomas similares ao hipotireoidismo. 

Quaisquer que sejam os pontos de vista, pessoas realmente morreram, além de tantos outros casos de reações adversas, ou seja, não é mais tempo de incertezas. O jornal Le Monde anunciou que publicará outros artigos sobre o caso.  

Texto original em italiano.


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Mulheres marroquinas lutam contra o assédio sexual diariamente

No Marrocos, não é fácil para uma mulher andar pelas ruas sem ser assediada. Morgan Meaker conversa com mulheres que querem pôr um fim a esse assédio endêmico.



De acordo com Ghizlane Ahblain, a palavra “puta” é constante no dia a dia de sua cidade natal, Marrakesh. O termo ofensivo pode ser escutado nas mais diversas partes da cidade.

“No Marrocos, não importa o que você faça, você é chamada de puta”, diz Ghizlane, que trabalha em um hotel. “Se você usa batom, você é puta. Se você usa véu, você é puta. ”

Ao sentar-se em uma cafeteria no centro de Marrakech, a frustração transborda da pequena, mas impetuosa marroquina de 30 anos. Como muitas mulheres no Marrocos, Ghizlane lida com o assédio sexual diariamente. Mas há alguns anos começou a revidar. 

Sua tática é fazer um escândalo, para que fique mais difícil para os homens assediar as mulheres nas ruas, tanto fisicamente como verbalmente. Ela inicia uma discussão com um homem que resmunga: “Você tem pernas lindas”, ou acusa um outro homem de roubo aos gritos, depois de ele ter feito comentários sexistas no banco. “Os homens no meu país não sabem quando parar.”   

Com seu mestrado e saia curta, Ghizlane admite que não é a típica mulher marroquina. Mas ela não está lutando contra o assédio sexual sozinha.

Em Rabat, a capital do país, espero por Mo do lado de fora da estação de trem. Ela desliza pelo chão de azulejos reluzentes, com seus longos cabelos marrons que cobrem suas costas. Nossa conversa é estranha. Ela diz que geralmente não conversa sobre os direitos das mulheres – suas amigas não estão muito interessadas.

“Meu sonho é que as mulheres marroquinas aprendam como parar o assédio sexual”, ela diz. “Quando alguém me assedia, imagino mulheres arrebentando a cara dele. ” 

Ela tentou começar uma aula de autodefesa mas teve que pedir permissão ao governo. Seu pedido foi ignorado. Com isso, ela sozinha tem confrontado assediadores sexuais nas ruas, um a um. “Quando alguém tenta me tocar, eu grito. Eu digo: ‘Por que você está fazendo isso’? Esses homens não entendem. Nunca recebo uma resposta positiva. ”

Mas com um anteprojeto de lei sobre o assédio sexual atualmente sendo avaliado no Parlamento marroquino, os assediadores sexuais persistentes podem, em breve, ser condenados à prisão de um a seis meses ou multados entre aproximadamente 170 a 800 libras esterlinas.

Parece algo positivo. Não será uma cilada?

“Nos parece um anteprojeto de lei terrível”, diz Stephanie Willman Bordat, uma americana expatriada que trabalha com direitos das mulheres no Marrocos há 21 anos. Seu escritório em Rabat é um paraíso seguro dos fiu-fius e das propostas de casamento que a fotógrafa Frances e eu temos atraído nas ruas. 

“Seria apenas fazer pequenos ajustes no já existente código criminal. O problema é que as mulheres não denunciam, a polícia não investiga e os promotores de justiça não atuam. ” 

Mais tarde ela me envia por e-mail uma história de 2015 que explica por que as mulheres não confiam no sistema. É de Inezgane, cidade situada no sudoeste de país. Após ser assediada por um grupo de homens, duas mulheres buscaram refúgio em uma loja próxima onde esperaram pela polícia. Quando os policiais chegaram, ao invés de as protegerem, as prenderam – porque seus vestidos eram, segundo eles, “muito curtos”. 

Para a mulher, o assédio nas ruas não a deixa apenas com a emudecida e sufocante sensação de se sentir violada. No Marrocos, isso também limita sua liberdade para estudar, ir ao trabalho e se sentir segura no lugar que ela chama lar. 

E enquanto uma mudança de comportamento pode demorar décadas para acontecer, a curto prazo, a reforma na lei do assédio sexual envia uma mensagem clara sobre o que é aceitável e o que não é. Sobre quem pode ou não ser perturbado pela impunidade.  

Nem todas as mulheres marroquinas têm energia para revidar e lutar contra o assédio. Muitas simplesmente moldam suas vidas em torno disso, evitando atritos.

Passeando pelo forte, na cidade velha de Rabat, a empresária Gitana me conta que evita os comentários dos homens e suas tentativas de tocá-la, indo para todos os lugares de carro. 

Juntas, olhamos o mar abaixo. O Oceano Atlântico enevoa-se no monocromático céu marroquino. Noto que há somente meninos nadando na água. Pergunto para minha nova amiga, “Você acha que daria para nadar...vestindo um biquíni? ” Ela diz: “Você poderia...” e pausa olhando constrangida para o mar azul abaixo. “Mas eu nunca faria isso...”   

Penso novamente em Ghizlane e suas batalhas diárias em Marrakech. Antes que sumisse no meio da multidão, ela me olha seriamente, através de seus grandes óculos e diz: “Definitivamente não é fácil viver no Marrocos e ser mulher”.

Texto original em inglês.
Traduzido por: Tradução & Informação

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Problemas estomacais


Todo mundo sofre de ocasionais transtornos de apetite e digestivos, de azia a diarreia. Esses problemas podem frequentemente ser tratados com sucesso se você prestar mais atenção à sua dieta e usar medicamentos naturais quando necessário.

Hábitos alimentares ruins – como devorar a comida ou exagerar nos pratos fartos e calóricos – podem resultar em sintomas desagradáveis. Uma dieta rica em carboidratos refinados e baixa em fibras pode também causar uma variedade de problemas, como a constipação. Remédios naturais podem ajudar a diminuir o desconforto, porém, ter consciência do que você come e aumentar a ingestão de fibras e água são atitudes que podem até evitar o aparecimento dos problemas digestivos.  

Perda do apetite
Há muitas razões para a perda do apetite, como o cansaço e a ansiedade. A congestão nasal prejudica o olfato e o paladar e, por isso, comer se torna menos agradável.  Algumas medicações podem reduzir o apetite, mas no final do tratamento ele volta ao normal. Porém, não ter vontade de comer pode ser sinal de uma doença grave, como o câncer. Consulte um médico se sua falta de apetite:

• for persistente
• não tiver uma causa identificável
• for acompanhada por outros sintomas, como náusea e perda de peso.

O que fazer: se você não consegue ingerir uma refeição normal, tente comer porções pequenas de petiscos saudáveis, como vegetais levemente cozidos no vapor, em intervalos frequentes. Outra opção são os sucos naturais de frutas ou vegetais.  A Genciana e a Artemísia são ervas que estimulam o apetite. Por causa do gosto amargo, o ideal é ingeri-las como extratos em pequenas doses (5 a 10 gotas antes das refeições). Uma pesquisa recente demonstrou que a deficiência de zinco pode reduzir o apetite, então suplementos podem ser de grande ajuda. Fale com seu médico antes de começar a tomar suplementos de zinco, pois o uso excessivo pode ser prejudicial.

Se a ansiedade ou o estresse estão afetando seu apetite, tente relaxar tomando um banho com óleo de essência de lavanda, praticando respiração profunda ou fazendo uma caminhada.

Indigestão e azia
Náusea, flatulência e inchaço são sintomas da indigestão e aparecem geralmente depois de uma refeição pesada. A azia, sensação de um ácido queimando seu estomago ou peito, às vezes ocorre quando você se deita logo após uma grande refeição. Outras causas para a indigestão e azia incluem:

• comer muito e muito rápido
• comer ou beber café, chá, álcool e chocolate
• fumar
• determinados medicamentos
• estresse e ansiedade

A indigestão pode ser muito desagradável. Contudo, a dor de estômago não deve ser um sintoma frequente – se você sofre de dores estomacais constantemente, perda de peso, vômitos, diarreia persistente ou constipação, procure um médico. 


Texto original em inglês.
Traduzido por: Tradução & Informação

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Out of the Cocoon: Brazilian Transsexual Overcomes Prejudice and Becomes a YouTube Star


In her teen years, Amanda Guimarães developed techniques to skip school without her mother knowing about it. She used to do things like leave her bedroom window half opened and pretend she was going to school. Then she would hide in the neighborhood and come back to the house after her mom had already left for work. 
 
She also used to take the bus to school and hop off a few blocks away from it. Then she would stay in a videogames rental store until it was time for her to come back home from school.

“I failed twice because of excessive absences. In high school, I felt like a prey among hunters. Their mouths were like guns. The jokes and the vicious name-calling were the munitions,” she told BCC Brazil.

The minute I walked into the classroom, they would start saying things like “Here comes the fag” or “Why can’t you walk like a man?” or even “Get a haircut, poodle!” 
“I still have horrible nightmares. I dream that I’m back in high school and I wake up shaking from head to toe,” she says. 

But those high school days in Morungava, a town close to Porto Alegre, with a population of over 6 thousand people, are over. Now she’s 27 and shares an apartment with a rabbit, a turtle and a guinea pig in Hong Kong, a special administrative region of China.

She has a part-time job as a waitress in a friend’s restaurant and in her spare time she is Mandy Candy, a very popular YouTube star, with more than 300 thousand followers. In her YouTube videos, she talks about things like which restroom she uses and how she told her Asian boyfriend she is a transsexual. 

However, the fame didn't stop her from being attacked. After she posted a video where she talked about her transsexuality, in February 2015, she started to suffer bullying again.
There were many comments from religious fanatics saying she was going to hell. Some other people threatened to beat her up.   

“Sometimes I feel like a freak of nature and sometimes I feel like the characters from X-Men. But it doesn’t matter if you’re fat, black, Asian, gay or trans. If you were attacked online, you should report it. Cyberbullies need to be punished,” she says.


Texto original em português: BBC Brasil  
Versão do português para o inglês: Tradução & Informação  

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Bernie Sanders condena esforços para remover a presidente do Brasil eleita democraticamente

 
 
 
BURLINGTON, Vt., 8 de agosto – O senador dos Estados Unidos Bernie Sanders emitiu na segunda-feira a seguinte declaração convocando os Estados Unidos a tomar uma posição definitiva contra os esforços para retirar a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do cargo:
 
“Estou profundamente preocupado com o atual esforço para remover a presidente democraticamente eleita do Brasil, Dilma Rousseff. Para muitos brasileiros e observadores, o processo controverso de impeachment assemelha-se mais a um golpe de estado.
 
Após suspender por motivos duvidosos a primeira mulher eleita presidente do Brasil, o novo governo interino, sem um mandato para governar, aboliu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (MMIRDH). Um governo de diversidade e representatividade foi substituído imediatamente por um gabinete formado inteiramente por homens brancos. A nova e não eleita administração rapidamente anunciou planos para impor austeridade, aumentar a privatização e instalar um programa social de extrema direita.
 
O esforço para remover a presidente Dilma Rousseff não é um julgamento legal, mas sim político. Os Estados Unidos não podem ficar sentados enquanto as instituições democráticas de um de nossos aliados mais importantes são destruídas. Devemos nos levantar pelos trabalhadores do Brasil e exigir que essa disputa seja resolvida com eleições democráticas”. 
 
Texto original em inglês: site oficial de Bernie Sanders
Traduzido por: Tradução & Informação
 
 
 
   

terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Brasil tem sede apesar de ser dono de 20% da água no mundo



Se o Brasil tem quase a quinta parte das reservas de água no mundo, por que as notícias sobre a escassez de água se tornaram tão comuns no país nos últimos anos? Há muitas respostas para esta pergunta, desde a forma como os recursos hídricos estão divididos geograficamente e a degradação das áreas ao redor da bacia do rio, até a mudança climática e a má infraestrutura de fornecimento.

Os setores que mais contribuem para a economia são os mais dependentes da água. Por exemplo, 62% da energia do Brasil é gerada por usinas hidroelétricas. A água é também essencial na agricultura, outro setor importante para a economia. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), a irrigação consome 72% da água do país. 
Este tipo de dependência significa que em tempos de crise da água – segundo a experiência de São Paulo em 2014 e 2015 – a produtividade dos diferentes setores econômicos pode ficar ameaçada. 
Estes e outros temas são discutidos em um novo relatório do Banco Mundial chamado Diagnóstico Sistemático de País (SCD em inglês), que mostra como os recursos naturais podem contribuir para o desenvolvimento econômico do país. 
“Em São Paulo, durante alguns meses não ficou claro se as indústrias, tais como a de alumínio, grande consumidora de água, poderiam seguir produzindo no ritmo anterior à crise hídrica”, recorda Gregor Wolf, chefe do programa de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial no Brasil.
O estudo inclui alguns aspectos importantes sobre como o Brasil está gerindo seus recursos hídricos e analisa os principais obstáculos que devem ser enfrentados com a finalidade de estabelecer um modelo sustentável e integrador.
Água, bosques e cidades
Frente a forte evidência científica da relação entre o desmatamento, a degradação dos bosques e as mudanças nos padrões da chuva, o relatório adverte: a crise da água como a de São Paulo pode se repetir nas próximas quatro décadas, afetando o abastecimento, a produção agrícola e a geração de energia, entre outras atividades. O estudo também destaca a redução do desmatamento da Amazônia nos últimos anos (em 82%) e os regulamentos criados, como o Código Florestal, para ajudar a proteger os recursos naturais nos terrenos rurais. São conquistas recentes depois de décadas de devastação acopladas à necessidade cada vez maior de ter um controle constante para que não se percam tais recursos.
Os mais dependentes da água 
O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. No país onde a agricultura e a agroindústria representam 8,4% do PIB, as zonas de terrenos irrigados aumentaram em ritmo acelerado na última década e tudo indica que o consumo de água seguirá crescendo. Atualmente, menos de 20% das terras de regadio têm acesso à irrigação. Na área de geração de energia, incluindo a diversificação das fontes previstas para as próximas décadas, as usinas hidroelétricas continuarão gerando a maior parte da eletricidade que se consome no Brasil.
O setor mais poluente
A indústria continua sendo uma das principais causas da degradação do meio ambiente no Brasil. De acordo com o relatório do Banco Mundial, os investigadores encontraram resíduos industriais, incluindo metais pesados, nos cursos de água em várias áreas metropolitanas. Tais poluentes são descartados sem nenhum tratamento prévio. Em São Paulo e Recife, por exemplo, isto significa que os rios circundantes já não são seguros para o fornecimento de água potável, obrigando as cidades a extrair água de poços ou bacias mais distantes. O crescimento de novos complexos industriais, particularmente no Nordeste, também pode resultar em impactos ambientais a longo prazo, tais como a contaminação e a competição pelos recursos naturais (especialmente a água).
Desigualdades no acesso a água e ao saneamento
Entre os 40% mais pobres do país, a porcentagem dos lares com vaso sanitário conectado à rede de saneamento aumentou de 33% em 2004 para 43% em 2013. Porém, o acesso é ainda baixo se comparado com o estrato mais rico da população. Outra diferença importante é a que existe na cobertura nacional da água (82,5%), das águas residuais (48,6%) e o tratamento real de águas residuais (39%). A falta de tratamento das águas residuais faz com que os poluentes sejam jogados diretamente na água ou processada em fossas sépticas não regulamentadas, com graves consequências para a qualidade dos recursos hídricos, assim como ao bem-estar da população.
O que precisa ser melhorado?     
Muitas empresas de fornecimento ainda sofrem grandes perdas de água (mais da terceira parte em média), têm excesso de pessoal e altos custos de operação. O financiamento do setor se baseia em taxas e subsídios cruzados, com uma estrutura tarifária obsoleta, incapaz de gerar serviços mais eficientes e sustentáveis. O resultado: não têm capital suficiente para aumentar a cobertura e fazer com que a infraestrutura seja mais resistente aos fenômenos climáticos extremos (secas e inundações).
O estudo agrega que a qualidade de vida dos brasileiros mais pobres está fortemente relacionada à gestão da água e de outros recursos naturais, e, portanto, as políticas para conservá-los são cada vez mais necessárias.   

Texto original em espanhol: El País

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Seis sinais para entender a hipocondria


                                             (Novela La hipocondríaca, disponível no Netflix)


Apesar do termo  não  ser mais utilizado pelos médicos, a hipocondria é de fato um problema muito sério que não pode ser subestimado. A errônea convicção por parte do paciente de que sofre de uma determinada doença é uma patologia de verdade, classificada como Transtorno de Ansiedade de Doença.

  
1 – Marcar vários exames e consultas médicas  

Há alguns anos um grupo de especialistas britânicos havia estimado em 2 bilhões de libras o custo que o serviço de saúde do país tem com os hipocondríacos, sem contar o desperdício de tempo dos médicos e enfermeiros. Mas embora estes dados sejam levados em consideração, tratar a hipocondria como um simples capricho de uma pessoa desejosa de atenção seria totalmente equivocado, pois estamos diante de uma enfermidade verdadeira, conhecida como Transtorno de Ansiedade de Doença, que afeta quem é predisposto a manifestar uma particular sensibilidade para alguns medos, respondendo de modo mais intenso a determinados estímulos. 

A primeira dentre as reações exageradas dos hipocondríacos está associada à necessidade de realizar exames e consultas com médicos especialistas frequentemente, na convicção de que haja algo errado, mesmo que na realidade não seja o caso. Além disso, como destaca o site Psychology Today, frequentemente estes indivíduos não se limitam a somente um parecer médico, mas precisam de vários, porque têm certeza que o primeiro médico pode ter cometido um erro que aparecerá em exames sucessivos.


2 – Sempre convencidos do pior

Ocasionalmente todo mundo tem uma dor de cabeça ou de estômago, mas se a maioria das pessoas tende a esperar que a dor passe, quem sofre de Transtorno de Ansiedade de Doença é levado imediatamente a pensar no pior, porque para estes sujeitos uma tosse nunca é somente uma tosse, mas sim o sintoma de qualquer coisa diferente e obviamente muito mais grave. 

3 – Passar horas pesquisando os sintomas online

Existem sites médicos respeitáveis que dão todas as explicações possíveis sobre uma série de doenças e se às vezes estas informações são uteis enquanto se espera até a data da consulta médica, muitas vezes elas resultam completamente contraproducentes, pois podem desencadear preocupações excessivas e, quase sempre, sem motivação. Por causa de tal fluxo de informações, o hipocondríaco passa boa parte de seu dia pesquisando na internet os sintomas da doença que está convencido de ter, chegando de fato a fazer um diagnóstico por conta própria. Um fenômeno conhecido como cibercondria.


4 – Isolar-se

Frequentemente o hipocondríaco se isola de todos e de tudo, com medo de se expor aos germes ou de contrair doenças específicas. É emblemático o caso citado no jornal Washington Post de um rapaz tão preocupado com a possibilidade de adquirir Aids ao tocar pessoas ou objetos que decidiu não sair mais de casa. 


5 – Medir frequentemente a pressão

Apesar de irem sempre ao médico, não ficam satisfeitos com a resposta dos médicos ou com o resultado dos exames e acabam se virando sozinhos. De acordo com o OCD Center de Los Angeles, ter aparelhos como o de medir pressão em casa é um claro sinal de hipocondria.   

Monitorar a pressão sanguínea pode ser problemático para tais indivíduos, pois a ansiedade libera adrenalina, que aumenta tanto a frequência como a pressão sanguíneas, por isso se a pessoa estiver ansiosa toda vez que for medir a pressão, o resultado não será o real e pode aumentar a convicção do hipocondríaco de ter alguma doença séria.

6 – Evitar ir ao médico de qualquer maneira

Pode aparecer uma contradição aos itens mencionados anteriormente, mas é uma outra característica da hipocondria. Algumas pessoas estão tão convencidas de que receberão um péssimo diagnostico que decidem parar de ir ao médico. A consequência de tal comportamento pode ser fatal, como mostra o estudo do The British Journal of Psychiatry, pois a pessoa só acaba descobrindo que há algo errado quando já é tarde demais.  


Texto original em italiano: Corriere della Sera

Traduzido por: Tradução & Informação  

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Surto de febre amarela pode se tornar global




Ela ocupa um lugar estranho no espectro das doenças tropicais infecciosas. Não tão importante quanto a malária. Não tão aterrorizante quanto o ebola. Não tão repugnante quanto a elefantíase. Contudo, a febre amarela é uma doença grave e incurável, uma vez contraída. 
Ela mata 80.000 africanos todo ano, o que é um escândalo, tanto porque ela pode ser prevenida com uma única vacinação, como também porque agora há risco de contágio da febre amarela na Ásia, onde ela nunca antes havia se estabelecido. 

Este é o contexto da mais recente epidemia da doença, em Angola. Desde dezembro, cerca de 2.300 casos suspeitos foram registrados, com aproximadamente 300 mortes. Se comparado com as 80.000 mortes, pode não parecer muito, mas a experiência sugere que para cada caso levado à atenção das autoridades, em um país em que a assistência médica é tão fragmentada como em Angola, entre 50 e 500 casos provavelmente não são registrados. 

A febre amarela é transmitida pelo Aedes aegypti, o mosquito que também carrega os vírus da dengue e da zika. Os primeiros sintomas — temperatura alta, náusea, vômito e dor muscular — são razoavelmente suaves e geralmente duram somente alguns dias. Em cerca de 15% dos casos, contudo, a doença retorna posteriormente muito mais forte. Os pacientes sentem forte dor abdominal, se tornam ictéricos, sangram internamente e pelos olhos, boca e nariz. Cerca de metade dessas pessoas morre.   

A ONU e a Organização Mundial da Saúde enviaram 9 milhões de doses de vacina para Angola, o suficiente para cerca de um terço da população. Essa quantidade é em torno de um quinto de toda a vacina disponível no mundo a qualquer momento. Se a epidemia se espalhar, os estoques acabarão rapidamente. 

A melhor maneira de conter a doença agora é vacinar o mais rápido possível todos aqueles em situação de risco. Todo dia aumenta a chance de que um dos milhares de trabalhadores asiáticos em Angola leve a doença para casa, causando um surto em larga escala em um continente que ainda não vivenciou isso. 

A distribuição da vacina em todos os países africanos em que a febre amarela é endêmica pode reduzir o número de casos. Mais de 100 milhões de pessoas foram vacinadas desde seu início em 2007. Com mais financiamento, este surto poderia ter sido evitado: Angola não estava entre os 12 países que eram considerados mais suscetíveis à doença.  
A produção da vacina da febre amarela tem aumentado nos últimos cinco anos, mas seria difícil aumentá-la ainda mais, pois ela provém de apenas quatro origens: Sanofi Pasteur, empresa farmacêutica francesa, e institutos no Brasil, Senegal e Rússia.   

Texto original em inglês: The Economist


Morrendo pelo ouro




A maior ação judicial coletiva da África do Sul obtém autorização para avançar


O mais impressionante sobre Joseph Mothibedi é sua voz: rouca, um sussurro metálico. É o som de um homem que morre lentamente.

O ex-mineiro de 58 anos parece reduzido em seu uniforme de trabalho, que fica suspenso em seus ombros ossudos, enquanto passa margarina em uma fatia de pão branco para o chá da tarde. 

"Apenas escute minha voz," ele diz, "Eu tenho problemas nos pulmões. Eu nem sequer posso andar rápido ou longe. É muito difícil para mim." 

Mothibedi está acometido de silicose, uma doença incurável nos pulmões que afeta os mineiros no sul da África. 

A silicose progride por longos períodos de tempo. O pó fino de sílica se instala no fundo dos pulmões dos mineradores enquanto eles extraem ouro, dia após dia, ano após ano. À medida que as partículas de sílica se acumulam, o funcionamento dos pulmões fica severamente limitado. Os trabalhadores têm falta de ar, perda de peso, se tornam propensos à doença cardíaca e, nos casos mais severos, a uma morte precoce.

Diversos estudos estimam que existem ao menos duzentos mil mineiros e ex-mineiros na região que sofrem dessa doença.

Na sexta-feira, milhares deles receberam permissão para proceder com a marcante ação judicial coletiva - a maior na história da África do Sul - contra empresas de mineração.
O processo, em parte apoiado pela Motley Rice, proeminente firma de advocacia  dos EUA, alega que as mineradoras deveriam ter sabido dos efeitos prejudiciais do pó de sílica e não fizeram o suficiente para impedir isso.

A base da riqueza sul-africana foi construída à custa dos mineiros negros. A segregação da indústria de mineração foi um elemento crucial nas políticas racistas, culminando em décadas de regime apartheid.    

Enquanto crescia em Lestotho, Mothibedi via as minas como a única oportunidade para melhorar de vida.

"Quando comecei a trabalhar nas minas, queria apenas ganhar dinheiro e voltar a estudar," ele diz. "Mas quando comecei a ver as pessoas ganharem dinheiro, pensei que poderia poupar e começar meu próprio negócio."

Lentamente, subiu até um dos poucos cargos mais altos nas minas que mineradores negros podiam esperar obter no apartheid, durante todo o tempo em que respirava o pó que arruinaria seus pulmões.

A silicose pôs um fim nos sonhos de Mothibedi.

"Sinto-me desamparado. Essa doença tem destruído tudo em minha vida", ele diz. 


Texto original e completo em inglês: CNN
Traduzido por: Tradução & Informação