segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Bernie Sanders condena esforços para remover a presidente do Brasil eleita democraticamente

 
 
 
BURLINGTON, Vt., 8 de agosto – O senador dos Estados Unidos Bernie Sanders emitiu na segunda-feira a seguinte declaração convocando os Estados Unidos a tomar uma posição definitiva contra os esforços para retirar a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, do cargo:
 
“Estou profundamente preocupado com o atual esforço para remover a presidente democraticamente eleita do Brasil, Dilma Rousseff. Para muitos brasileiros e observadores, o processo controverso de impeachment assemelha-se mais a um golpe de estado.
 
Após suspender por motivos duvidosos a primeira mulher eleita presidente do Brasil, o novo governo interino, sem um mandato para governar, aboliu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (MMIRDH). Um governo de diversidade e representatividade foi substituído imediatamente por um gabinete formado inteiramente por homens brancos. A nova e não eleita administração rapidamente anunciou planos para impor austeridade, aumentar a privatização e instalar um programa social de extrema direita.
 
O esforço para remover a presidente Dilma Rousseff não é um julgamento legal, mas sim político. Os Estados Unidos não podem ficar sentados enquanto as instituições democráticas de um de nossos aliados mais importantes são destruídas. Devemos nos levantar pelos trabalhadores do Brasil e exigir que essa disputa seja resolvida com eleições democráticas”. 
 
Texto original em inglês: site oficial de Bernie Sanders
Traduzido por: Tradução & Informação
 
 
 
   

terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Brasil tem sede apesar de ser dono de 20% da água no mundo



Se o Brasil tem quase a quinta parte das reservas de água no mundo, por que as notícias sobre a escassez de água se tornaram tão comuns no país nos últimos anos? Há muitas respostas para esta pergunta, desde a forma como os recursos hídricos estão divididos geograficamente e a degradação das áreas ao redor da bacia do rio, até a mudança climática e a má infraestrutura de fornecimento.

Os setores que mais contribuem para a economia são os mais dependentes da água. Por exemplo, 62% da energia do Brasil é gerada por usinas hidroelétricas. A água é também essencial na agricultura, outro setor importante para a economia. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), a irrigação consome 72% da água do país. 
Este tipo de dependência significa que em tempos de crise da água – segundo a experiência de São Paulo em 2014 e 2015 – a produtividade dos diferentes setores econômicos pode ficar ameaçada. 
Estes e outros temas são discutidos em um novo relatório do Banco Mundial chamado Diagnóstico Sistemático de País (SCD em inglês), que mostra como os recursos naturais podem contribuir para o desenvolvimento econômico do país. 
“Em São Paulo, durante alguns meses não ficou claro se as indústrias, tais como a de alumínio, grande consumidora de água, poderiam seguir produzindo no ritmo anterior à crise hídrica”, recorda Gregor Wolf, chefe do programa de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial no Brasil.
O estudo inclui alguns aspectos importantes sobre como o Brasil está gerindo seus recursos hídricos e analisa os principais obstáculos que devem ser enfrentados com a finalidade de estabelecer um modelo sustentável e integrador.
Água, bosques e cidades
Frente a forte evidência científica da relação entre o desmatamento, a degradação dos bosques e as mudanças nos padrões da chuva, o relatório adverte: a crise da água como a de São Paulo pode se repetir nas próximas quatro décadas, afetando o abastecimento, a produção agrícola e a geração de energia, entre outras atividades. O estudo também destaca a redução do desmatamento da Amazônia nos últimos anos (em 82%) e os regulamentos criados, como o Código Florestal, para ajudar a proteger os recursos naturais nos terrenos rurais. São conquistas recentes depois de décadas de devastação acopladas à necessidade cada vez maior de ter um controle constante para que não se percam tais recursos.
Os mais dependentes da água 
O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. No país onde a agricultura e a agroindústria representam 8,4% do PIB, as zonas de terrenos irrigados aumentaram em ritmo acelerado na última década e tudo indica que o consumo de água seguirá crescendo. Atualmente, menos de 20% das terras de regadio têm acesso à irrigação. Na área de geração de energia, incluindo a diversificação das fontes previstas para as próximas décadas, as usinas hidroelétricas continuarão gerando a maior parte da eletricidade que se consome no Brasil.
O setor mais poluente
A indústria continua sendo uma das principais causas da degradação do meio ambiente no Brasil. De acordo com o relatório do Banco Mundial, os investigadores encontraram resíduos industriais, incluindo metais pesados, nos cursos de água em várias áreas metropolitanas. Tais poluentes são descartados sem nenhum tratamento prévio. Em São Paulo e Recife, por exemplo, isto significa que os rios circundantes já não são seguros para o fornecimento de água potável, obrigando as cidades a extrair água de poços ou bacias mais distantes. O crescimento de novos complexos industriais, particularmente no Nordeste, também pode resultar em impactos ambientais a longo prazo, tais como a contaminação e a competição pelos recursos naturais (especialmente a água).
Desigualdades no acesso a água e ao saneamento
Entre os 40% mais pobres do país, a porcentagem dos lares com vaso sanitário conectado à rede de saneamento aumentou de 33% em 2004 para 43% em 2013. Porém, o acesso é ainda baixo se comparado com o estrato mais rico da população. Outra diferença importante é a que existe na cobertura nacional da água (82,5%), das águas residuais (48,6%) e o tratamento real de águas residuais (39%). A falta de tratamento das águas residuais faz com que os poluentes sejam jogados diretamente na água ou processada em fossas sépticas não regulamentadas, com graves consequências para a qualidade dos recursos hídricos, assim como ao bem-estar da população.
O que precisa ser melhorado?     
Muitas empresas de fornecimento ainda sofrem grandes perdas de água (mais da terceira parte em média), têm excesso de pessoal e altos custos de operação. O financiamento do setor se baseia em taxas e subsídios cruzados, com uma estrutura tarifária obsoleta, incapaz de gerar serviços mais eficientes e sustentáveis. O resultado: não têm capital suficiente para aumentar a cobertura e fazer com que a infraestrutura seja mais resistente aos fenômenos climáticos extremos (secas e inundações).
O estudo agrega que a qualidade de vida dos brasileiros mais pobres está fortemente relacionada à gestão da água e de outros recursos naturais, e, portanto, as políticas para conservá-los são cada vez mais necessárias.   

Texto original em espanhol: El País

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Seis sinais para entender a hipocondria


                                             (Novela La hipocondríaca, disponível no Netflix)


Apesar do termo  não  ser mais utilizado pelos médicos, a hipocondria é de fato um problema muito sério que não pode ser subestimado. A errônea convicção por parte do paciente de que sofre de uma determinada doença é uma patologia de verdade, classificada como Transtorno de Ansiedade de Doença.

  
1 – Marcar vários exames e consultas médicas  

Há alguns anos um grupo de especialistas britânicos havia estimado em 2 bilhões de libras o custo que o serviço de saúde do país tem com os hipocondríacos, sem contar o desperdício de tempo dos médicos e enfermeiros. Mas embora estes dados sejam levados em consideração, tratar a hipocondria como um simples capricho de uma pessoa desejosa de atenção seria totalmente equivocado, pois estamos diante de uma enfermidade verdadeira, conhecida como Transtorno de Ansiedade de Doença, que afeta quem é predisposto a manifestar uma particular sensibilidade para alguns medos, respondendo de modo mais intenso a determinados estímulos. 

A primeira dentre as reações exageradas dos hipocondríacos está associada à necessidade de realizar exames e consultas com médicos especialistas frequentemente, na convicção de que haja algo errado, mesmo que na realidade não seja o caso. Além disso, como destaca o site Psychology Today, frequentemente estes indivíduos não se limitam a somente um parecer médico, mas precisam de vários, porque têm certeza que o primeiro médico pode ter cometido um erro que aparecerá em exames sucessivos.


2 – Sempre convencidos do pior

Ocasionalmente todo mundo tem uma dor de cabeça ou de estômago, mas se a maioria das pessoas tende a esperar que a dor passe, quem sofre de Transtorno de Ansiedade de Doença é levado imediatamente a pensar no pior, porque para estes sujeitos uma tosse nunca é somente uma tosse, mas sim o sintoma de qualquer coisa diferente e obviamente muito mais grave. 

3 – Passar horas pesquisando os sintomas online

Existem sites médicos respeitáveis que dão todas as explicações possíveis sobre uma série de doenças e se às vezes estas informações são uteis enquanto se espera até a data da consulta médica, muitas vezes elas resultam completamente contraproducentes, pois podem desencadear preocupações excessivas e, quase sempre, sem motivação. Por causa de tal fluxo de informações, o hipocondríaco passa boa parte de seu dia pesquisando na internet os sintomas da doença que está convencido de ter, chegando de fato a fazer um diagnóstico por conta própria. Um fenômeno conhecido como cibercondria.


4 – Isolar-se

Frequentemente o hipocondríaco se isola de todos e de tudo, com medo de se expor aos germes ou de contrair doenças específicas. É emblemático o caso citado no jornal Washington Post de um rapaz tão preocupado com a possibilidade de adquirir Aids ao tocar pessoas ou objetos que decidiu não sair mais de casa. 


5 – Medir frequentemente a pressão

Apesar de irem sempre ao médico, não ficam satisfeitos com a resposta dos médicos ou com o resultado dos exames e acabam se virando sozinhos. De acordo com o OCD Center de Los Angeles, ter aparelhos como o de medir pressão em casa é um claro sinal de hipocondria.   

Monitorar a pressão sanguínea pode ser problemático para tais indivíduos, pois a ansiedade libera adrenalina, que aumenta tanto a frequência como a pressão sanguíneas, por isso se a pessoa estiver ansiosa toda vez que for medir a pressão, o resultado não será o real e pode aumentar a convicção do hipocondríaco de ter alguma doença séria.

6 – Evitar ir ao médico de qualquer maneira

Pode aparecer uma contradição aos itens mencionados anteriormente, mas é uma outra característica da hipocondria. Algumas pessoas estão tão convencidas de que receberão um péssimo diagnostico que decidem parar de ir ao médico. A consequência de tal comportamento pode ser fatal, como mostra o estudo do The British Journal of Psychiatry, pois a pessoa só acaba descobrindo que há algo errado quando já é tarde demais.  


Texto original em italiano: Corriere della Sera

Traduzido por: Tradução & Informação  

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Surto de febre amarela pode se tornar global




Ela ocupa um lugar estranho no espectro das doenças tropicais infecciosas. Não tão importante quanto a malária. Não tão aterrorizante quanto o ebola. Não tão repugnante quanto a elefantíase. Contudo, a febre amarela é uma doença grave e incurável, uma vez contraída. 
Ela mata 80.000 africanos todo ano, o que é um escândalo, tanto porque ela pode ser prevenida com uma única vacinação, como também porque agora há risco de contágio da febre amarela na Ásia, onde ela nunca antes havia se estabelecido. 

Este é o contexto da mais recente epidemia da doença, em Angola. Desde dezembro, cerca de 2.300 casos suspeitos foram registrados, com aproximadamente 300 mortes. Se comparado com as 80.000 mortes, pode não parecer muito, mas a experiência sugere que para cada caso levado à atenção das autoridades, em um país em que a assistência médica é tão fragmentada como em Angola, entre 50 e 500 casos provavelmente não são registrados. 

A febre amarela é transmitida pelo Aedes aegypti, o mosquito que também carrega os vírus da dengue e da zika. Os primeiros sintomas — temperatura alta, náusea, vômito e dor muscular — são razoavelmente suaves e geralmente duram somente alguns dias. Em cerca de 15% dos casos, contudo, a doença retorna posteriormente muito mais forte. Os pacientes sentem forte dor abdominal, se tornam ictéricos, sangram internamente e pelos olhos, boca e nariz. Cerca de metade dessas pessoas morre.   

A ONU e a Organização Mundial da Saúde enviaram 9 milhões de doses de vacina para Angola, o suficiente para cerca de um terço da população. Essa quantidade é em torno de um quinto de toda a vacina disponível no mundo a qualquer momento. Se a epidemia se espalhar, os estoques acabarão rapidamente. 

A melhor maneira de conter a doença agora é vacinar o mais rápido possível todos aqueles em situação de risco. Todo dia aumenta a chance de que um dos milhares de trabalhadores asiáticos em Angola leve a doença para casa, causando um surto em larga escala em um continente que ainda não vivenciou isso. 

A distribuição da vacina em todos os países africanos em que a febre amarela é endêmica pode reduzir o número de casos. Mais de 100 milhões de pessoas foram vacinadas desde seu início em 2007. Com mais financiamento, este surto poderia ter sido evitado: Angola não estava entre os 12 países que eram considerados mais suscetíveis à doença.  
A produção da vacina da febre amarela tem aumentado nos últimos cinco anos, mas seria difícil aumentá-la ainda mais, pois ela provém de apenas quatro origens: Sanofi Pasteur, empresa farmacêutica francesa, e institutos no Brasil, Senegal e Rússia.   

Texto original em inglês: The Economist


Morrendo pelo ouro




A maior ação judicial coletiva da África do Sul obtém autorização para avançar


O mais impressionante sobre Joseph Mothibedi é sua voz: rouca, um sussurro metálico. É o som de um homem que morre lentamente.

O ex-mineiro de 58 anos parece reduzido em seu uniforme de trabalho, que fica suspenso em seus ombros ossudos, enquanto passa margarina em uma fatia de pão branco para o chá da tarde. 

"Apenas escute minha voz," ele diz, "Eu tenho problemas nos pulmões. Eu nem sequer posso andar rápido ou longe. É muito difícil para mim." 

Mothibedi está acometido de silicose, uma doença incurável nos pulmões que afeta os mineiros no sul da África. 

A silicose progride por longos períodos de tempo. O pó fino de sílica se instala no fundo dos pulmões dos mineradores enquanto eles extraem ouro, dia após dia, ano após ano. À medida que as partículas de sílica se acumulam, o funcionamento dos pulmões fica severamente limitado. Os trabalhadores têm falta de ar, perda de peso, se tornam propensos à doença cardíaca e, nos casos mais severos, a uma morte precoce.

Diversos estudos estimam que existem ao menos duzentos mil mineiros e ex-mineiros na região que sofrem dessa doença.

Na sexta-feira, milhares deles receberam permissão para proceder com a marcante ação judicial coletiva - a maior na história da África do Sul - contra empresas de mineração.
O processo, em parte apoiado pela Motley Rice, proeminente firma de advocacia  dos EUA, alega que as mineradoras deveriam ter sabido dos efeitos prejudiciais do pó de sílica e não fizeram o suficiente para impedir isso.

A base da riqueza sul-africana foi construída à custa dos mineiros negros. A segregação da indústria de mineração foi um elemento crucial nas políticas racistas, culminando em décadas de regime apartheid.    

Enquanto crescia em Lestotho, Mothibedi via as minas como a única oportunidade para melhorar de vida.

"Quando comecei a trabalhar nas minas, queria apenas ganhar dinheiro e voltar a estudar," ele diz. "Mas quando comecei a ver as pessoas ganharem dinheiro, pensei que poderia poupar e começar meu próprio negócio."

Lentamente, subiu até um dos poucos cargos mais altos nas minas que mineradores negros podiam esperar obter no apartheid, durante todo o tempo em que respirava o pó que arruinaria seus pulmões.

A silicose pôs um fim nos sonhos de Mothibedi.

"Sinto-me desamparado. Essa doença tem destruído tudo em minha vida", ele diz. 


Texto original e completo em inglês: CNN
Traduzido por: Tradução & Informação